terça-feira, 12 de junho de 2012

O amor em gráficos

           
            Os racionalistas provavelmente se recusariam a aplicar os ‘quatro métodos’ ao amor ou à paixão, isso porque apaixonar-se está entre os comportamentos humanos mais irracionais. Um novo amor pode parecer uma mistura de demência com manias, obsessão, infantilização, e pode levar a um comportamento diferente do usual, com telefonemas compulsivos, manifestações públicas, perda de timidez e constrangimento, melindra, ciúmes, insegurança, e acredite, isso não é bipolaridade.
            Neurocientistas de Nova Iorque e Nova Jersey, pela primeira vez, mapearam o cérebro humano de pessoas apaixonadas, e argumentam que o amor romântico é um impulso biológico distinto do excitação sexual. O estudo mostra que o impulso relacionado ao amor está mais próximo em seu perfil neural a impulsos como fome, sede ou anseio por drogas, do que a estados emocionais como excitação ou afeição. À medida que o relacionamento se aprofunda, sugerem os escaneamentos do cérebro, a atividade neural associada ao amor romântico sofre leve alteração.
            A pesquisa ajuda a explicar o motivo de o amor produzir emoções tão díspares, como euforia e raiva, desejo de estar perto e de afastar-se, de carinho e obsessão, e até ansiedade, e o motivo de parecer se tornar ainda mais intenso quando uma relação termina, ou não se tem mais o objeto desse amor.
            O Dr. Hans Breiter, diretor da Colaboração de Neurociência da Motivação e Emoção do Hospital Geral de Massachusetts, diz que os resultados se parecem com outros da literatura que descrevem o sistema de recompensa e aversão no cérebro, e compara a construção intelectual do amor às recompensas homeostáticas como comida, calor e anseio por drogas.
            No estudo, Fisher, a Dra. Lucy Brown da Faculdade Albert Einstein de Medicina, no Bronx, e o Dr. Arthur Aron, um psicólogo da Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook, analisaram aproximadamente 2.500 imagens do cérebro de 17 estudantes universitários que estavam nas primeiras semanas ou meses de um novo amor. Na análise, os estudantes olhavam para uma foto da pessoa amada enquanto um aparelho de IRM (Imagem por Ressonância Magnética) escaneava o cérebro deles, essas imagens posteriormente eram comparadas com outras extraídas enquanto os estudantes olhavam para uma foto de um conhecido. O aparelho de IRM é capaz de detectar o aumento ou diminuição do fluxo de sangue no cérebro, e dessa forma, retrata as mudanças na atividade neural dos indivíduos.
            Um mapa gerado por computador das áreas particularmente ativas durante a pesquisa mostrou pontos acesos em áreas profundas do cérebro, abaixo da consciência, chamadas de núcleo caudado e área ventral tegumentar, que se comunicam. Estas áreas possuem muitas células produtoras ou receptoras de uma substância química do cérebro, chamada de dopamina, que circula ativamente quando as pessoas desejam ou antecipam uma recompensa.
            A região ligada à paixão, descoberta pelos pesquisadores, estava no lado oposto do cérebro de outra área que registra atração física, e parece estar envolvida no anseio, desejo e na atração inexplicável que as pessoas sentem por alguém. Esta distinção, entre achar alguém atraente e desejá-lo, entre gostar e querer, acontece, segundo Brown, em uma área do cérebro mamífero responsável pelas funções mais básicas, como comer, beber, movimentar os olhos, tudo em um nível inconsciente.
            Os impulsos diminuem com o tempo, de acordo com os escaneamentos do cérebro feitos em pesquisa semelhante de IRM funcional do romance, publicado em 2000, por pesquisadores da University College London, que monitoraram a atividade cerebral de homens e mulheres jovens que mantiveram relacionamentos por cerca de dois anos. Ao analisar as imagens obtidas dos cérebros dos participantes da pesquisa enquanto eles olhavam fotos da pessoa amada, percebeu-se a ativação de muitas das mesmas áreas apontadas no estudo de Fisher, mas significativamente menos na região ligada ao amor passional.
            Posteriormente, Fisher, Aron e Brown realizaram escaneamentos dos cérebros de 17 homens e mulheres jovens que tinham tido desilusões amorosas. Os pesquisadores compararam dois conjuntos de imagens, as escaneadas quando os participantes estavam olhando para a foto de um amigo ou amiga, e as extraídas enquanto eles olhavam para a foto do ou da ex. Apesar de não estar ainda concluído, resultados preliminares mostram  aumento da atividade de um área do cérebro associada ao amor passional. "Isto parece sugerir o que a literatura psicológica, a poesia e as pessoas já notaram há muito tempo: o fato de ser rejeitado na verdade acentua o amor romântico, um fenômeno que chamo de frustração-atração", diz Fisher.
            A perda da pessoa amada, enquanto ainda está apaixonado, provoca um caos nas áreas emocionais, cognitivas e de recompensa mais profundas do cérebro. Mas o aumento da atividade nestas áreas inevitavelmente retorna à normalidade. E os circuitos no cérebro relacionados à paixão permanecem intactos, disseram os pesquisadores, intactos e capazes de com o tempo serem ativados por uma nova pessoa.
            Talvez o amor seja mesmo só “fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente, dor que desatina sem doer”. Um sentimento tão completo como o amor transcende simples gráficos de computador. Existe mais desse sentimento que uma IRM não é capaz de capturar. Cientistas, filósofos, poetas, jornalistas, romancistas atrevem-se a dizer o que ele é, mas creio que nunca conseguirão exprimir em palavras, por mais metodologicamente testadas ou figuradas que sejam, o que se sente quando se está perto da pessoa amada.
            Se é possível avaliar o amor, quantificá-lo ou defini-lo eu não sei, mas para finalizar, usarei a definição, que pra mim, é a que melhor expressa o amor. O amor é sofredor, é benigno, o amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. E ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, de nada adiantaria. (BIBLIA, 1 corinthios 13)

 
Taylane Fragoso

 
Texto adaptado de reportagem divulgada na rede PSI
ANDOLFATO, G. K. Rede PSI.  Cientistas afirmam ter descoberto a parte do cérebro responsável pelo amor. 2005. Disponível em: <http://www.redepsi.com.br/portal/modules/news/print.php?storyid=144> Acesso em 12/06/2012.

 


Um comentário:

  1. O amor... desafiando cientistas e poetas....
    Para quem quiser saber um pouquinho mais sobre a bioquímica desta coisa que dá dentro da gente, segue o link updatesaude.wordpress.com

    Evidências, referências, representações artísticas, mas quem será capaz de definir e limitar o ilimitável?

    Só sei que pra tudo na vida tem jeito, menos pra falta de amor.

    Uliana Pontes

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